Mitos - 1 Curupira
de Ney Rosauro
Eu tenho em meu escritório em cima da minha mesa
A miniatura de um carro que a todos causa surpresa
Muitos já me perguntaram o motivo porque foi
Eu sendo um doutor formado gostar de um carro de boi
Respondi foi com um carro nas estradas a rodar
Que meu pai ganhou dinheiro pra eu poder estudar
Enquanto ele carreava passando dificuldades
As lições eu devorava lá nos bancos da faculdade
Entre nossas duas vidas existe comparação
Hoje eu seguro a caneta como se fosse um ferrão
Nos riscos de minha escrita sobre as folhas rabiscadas
Eu vejo os rastros que os bois deixavam pelas estradas
Fechando os olhos parece que vejo estradas sem fim
E um velho carro de boi cantando dentro de mim
Em meus ouvidos ficaram o gemido de um cocão
E o grito de um carreiro ecoando no grotão
Se tenho as mãos macias eu devo tudo a meu pai
Que teve as mãos calejadas do tempo que longe vai
Cada viagem que fazia naquelas manhãs de inverno
Eram pingos do meu pranto nas folhas do meu caderno
Meu pai deixou esta terra mas cumpriu sua missão
Carreando ele colocou um diploma em minhas mãos
Por isso guardo este carro com carinho e muito amor
É lembrança do carreiro que de mim fez um doutor
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