Só Isso
de Emicida
Já fomos calça de helanca e listra
E festivais no Jardim Hebron, mó banca sinistra
Sem nome na lista ou pose de popstar
Pronto pro racha, aí os b-boy aqui está
Sete, oito, quantos são? (Sei, não)
Levar pra frente do baile um freestyle de fundo de buzão
Com box de favela, sessões de grafite, depois tinha um pão com mortadela
E o boné pintado à mão com guache, de praxe, (É quente!)
Um boot com solado descolado, (Literalmente!)
Xerocar, fazer à mão, espalhar cartaz
Deu a mesma satisfação de sair em tantos jornais, (Ou mais!)
Ser útil em causas sociais
Salvar aliados ou cumprir demandas de mercado
Saudade do jogo verdadeiro
Não dessa corrida de falador gritando que faz dinheiro
Eu?
Refrão:
Vou te falar, lembra (Lembra!)
De tudo que conseguimos ser (Tudo!)
Casos pra contar, rir e chorar
Isso não pode se perder (Jamais!)
Independente do caminho diretriz (É!)
Ser frutos ligados à raiz (Aí)
É o que nos fará vencer
Isso não pode se perder, em você.
Hey rap, a gente pode ganhar um milhão
Desde que o que dê a direção seja nosso coração, irmão
Fomos toca com papelão
Hip-Hop em ação, sem toda essa falação
Esse negócio de todo mundo ser homem de negócio
Serviu pros ego inflar e camuflar o ócio
Muito rei pra pouco trono
Porque a cultura aqui é uma criança e ninguém notou o abandono
Cadê a disciplina, respeito pelas mina
Ser um elo entre as ruas, tipo as esquinas
Como a cidade, trago faixas pra pedestre
Se as cerimônias são escassas, imagina os mestres
Falta moleque matar aula pra ir na galeria
Ver roupa, cap, sentir a magia
E cumprir o papel
Raps hoje são pra descer até o chão, os meus são pra subir até o céu
Refrão
Viver disso, tem nada haver com viver isso
Parece que a crença tomou chá de sumiço
Pan, ninguém mais é fã
Ah, de tempos pra cá
A frieza da razão mostrou seu dom de espantar
Quem crê, a todo instante, é tirado de Zé
A fumaça dos blunt sufocou nossa fé
Os scratch arrepiam toda vez, djow
Grana é importante, mas por que cê fez o primeiro show?
Alegria de tá ali, gritar pro MC que derruba o outro como Muhammad Ali
Pulando catraca na central
O rap salvou mais moleque que qualquer projeto social
Sem internet, o nóiz na fita real-mente
Fazendo vaca pra comprar um cachorro quente
Por minha gente, na corrida
Pois meu maior cachê ainda é ouvir
Tio, essa rima é minha vida?
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