Touradas em Madri

de Dudu Sperb

Meu catavento tem dentro
O que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido
Eu te pedi sustenido e você riu bemol
Você só pensa no espaço
Eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio
Você é litorânea

Quando eu respeito os sinais
Vejo você de patins vindo na contramão
Mas quando ataco de macho
Você se faz de capacho e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega
Nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho

Eu sou do Engenho de Dentro
E você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio
E você é expansiva
O inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow
O outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta
Você dança havaiana

Eu vou de tênis e jeans
Encontro você demais
Scarpin, soiré
Quando o pau quebra na esquina
Cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha
E ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou
No sumidouro do espelho

A paz é feita num motel
De alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois
Que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval a
Aumentam os desenganos
Você vai pra Parati
E eu pro Cacique de Ramos

Meu catavento tem dentro
O vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora
O escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade
Você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço
Você é tão espontânea

Sei que um depende do outro
Só pra ser diferente, pra se completar
Sei que um se afasta do outro, no sufoco
Somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser
E eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão
No sumidouro do espelho

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